segunda-feira, janeiro 10, 2005

Saudades do Amor

A saudade de ti
Floresce dentro de mim
Corre nas minhas veias
Como trepadeiras.
Sinto-a invadir meu coração!

Minha alma guerreia entre risos e soluços
A angustia seca-me a garganta
Meus olhos pasmos
Tentam encontrar teu sorriso casto
Por entre as névoas de uma miragem.

Mindelo, 1997.

Apenas Um Sonho

Que noite romântica!
Tu e eu na minha cama,
Envolvidos num profundo amor,
Nossos corpos nus queimando-se de calor,
Fixemos sexo toda a noite.

Eu, perdido entre teus cabelos suados
Deslizando no teu corpo transpirado,
Descobria em cada canto mil encantos,
Em cada onda uma paixão.
E tu estavas mais bela do que bonita
Na bendita noite!
Me amaste com todo o amor e ardor,
Parecias uma mestra do sexo
Endoidecendo-me a cada segundo

Mas, o sol raiou na minha janela
E eu acordei abraçado ao meu travesseiro
Aiiii!!!... que grito de raiva
Tu já não lá estavas mais.
E como todo o sonho acordei para a realidade
Onde me desprezas e nem sequer olhas pra mim.

Mindelo, 1996.

Natal Tal e Qual.

Natal
Tal
E qual
Só na minha terra natal.

Aqui em Portugal
Que pensava ser o País ideal,
Que se celebrasse um genial natal
Isto parece mais um funeral.

Hoje não parece o dia em que nasceu
Mas sim que morreu
O tal espírito de luz
Chamado menino Jesus.

Não exijo de vós um festival musical
Nem pois, um carnaval de pai natal
Mas, é certo que, esperava o natural.
Vós o povão que se diz cristão
Ao menos neste dia uma procissão.

Mas não.
Para vós isto não é coisa popular
Já basta um jantar familiar.
Mas lembrem-se que no primeiro natal
Até estava lá presente animal.
Não vos quero deixar a mal
Mas...
Natal
Tal
E qual
Só na minha terra natal.

Braga, 1999.

Homens de Lama.

Aonde vai esta multidão de gentes estranhas?
Todas apressadas como formigas...
Sem desviar as caras pintadas vão atrofiadas.
Algumas de caras irónicas,
Vestidas de roucas estranhas...
Oh! Vão para a cidade
O Mindelo está invadido de gente louca
Que barulho de tambores é este?
Que cantares!?
Ah! Já me lembro! É a festa dos sãovicentinos.
É o carnaval!

Já ouço o som dos bombos e das caixas
O trac trac dos tamborinhos
São os pandeiros que tilintam...
Lá vem as fileira cantando,
Gritando e sambando.
Que vestes bonitas!
São múltiplas as roupas garridas e policromas!
É o bloco dos Vindos do Espaço!
Vem todo movimentado e iluminado...
Olá astronauta!?
Como está lá em cima oh rainha espacial!!

Mas... onde estão os outros?
Não vejo as coisas de outrora
Que eu em tempo de menino
Enfrentava a multidão, as pisadas, os engoches Para ver.

Onde estão os dragões de boca de lume?
E as girafas... os leões...?
Para onde foram as morenas de biquinis?
São poucas as sereias de agora!
Já não vejo o capitão tradicional...
Onde estão o Flores de Mindelo e os outros?
Todos simples espectadores!?
Nem vejo o gigante de pernas de pau...!
Só caixões... e as bailarinas?

É por isso que o teu sorriso se estreitou ó Mindelo?
Mas não fique com essa cara triste
De quem perdeu o filho.
Ponha pelo menos uma mascara irónica para disfarçar.
Talvez venha mais blocos mais tardinha...
Olha! Vem aí uma fileira lá em baixo!
Ops, desculpe-me! Vou correr pro outro lado...
- São os homens de lama!

Mindelo, 1996.

Parto Enfim Alegre e Triste.

Chegou enfim, a hora do adeus, Faro!
Meu espírito peregrino vem rezar sua última confissão.
Minhas palavras sabem a salitre do mar das ilhas,
Meu choro é seiva da tua ria que goteja.

Parto enfim, alegre e triste!
Levo uma mala cheia de palavras novas,
E o saco roto das velhas saudades.

Adeus, moças de olhos azuis!
Essas metáforas de oceano que trazem nos rostos
Foram refúgios de consolo para a minha saudade,
Onde agora deixo minha alma ancorada em lágrimas.

Adeus, colegas caras pálidas!
Direi aos meus amigos de infância,
Que afinal terra longe não tem gente gentio.
Direi à minha imaculada avó,
Que conheci gentes com coração benigno igual à dela.

Adeus, professores, adeus!
Minha alma foi o quadro negro
Onde gravei vossas palavras sábias.
Nesta hora derradeira em que me turvem os olhos,
Poisem os livros, e aceitem este aperto de mão tremido.

Adeus, Faro, adeus!
Parto enfim, alegre e triste!
Nesta hora de despedida,
Permite-me esta honra, de a minha confissão,
Ser mais um eco entre as memórias das tuas muralhas.

Tradução

It is finally time to say good-bye, Faro!
My pilgrim spirit comes to pray its last confession.
My words taste like salt of the islands sea,
My cry is sap of your laughed that drips.

Good-bye, Faro good-bye!
Finally, I’ll go cheerful and sad!
I'm taking a suitcase full of new words
And the broken sack of the old longings.

Good-bye, blue eyes young girls!
Those ocean metaphors you bring in your faces,
Were consoles refuges for my longing
Where, now, I leave my soul anchored in tears,

Good-bye, pale faces colleagues!
I will say my childhood friends,
That after all, faraway earth, do not have heathen people.
I will say my immaculate grandmother,
That I met people with a benign heart like hers.

Good-bye teachers, good-bye!
My soul was the blackboard,
Where I print your intelligent words.
On this last hour, with my eyes cloudy,
Put down the books and accept this shaken handshake.

Good-bye, Faro good-bye
Finally I’ll go, cheerful and sad!
On this farewell hour, allows me this honor
For my confession to be another echo among the memories of your walls.

Faro, 2003.

SOS Mamãe África

Mamãe África, na tua infância ingénua
Foste filha bastarda e ilegítima do mundo.
Negaram-te o direito de existência própria,
Exploraram o teu corpo, sugaram os teus frutos,
Sustentaram-te com o pão que o diabo amassou.
Puseram-te na escola da tortura,
Aprendeste o ABC da escravidão.

Já na juventude imatura
Arregaçastes as saias e mostraste mulher
Todos quiseram te repartir como uma prostituta.
Quiseste ser livre,
Deram-te uma carta de alforria assinada com balas de fogo.
Olhaste a tua volta
Descobriste as mágoas da tua sina:
Teus olhos vazaram lágrimas de sangue,
Ao veres os teus filhos uns contra os outros.
Entristeceste com a pobreza,
Frustraste com as doenças.

Agora na tua idade adulta
Continuas uma criança tímida.
Insultam-te como devedora e ficas calada
Chamam-te ignorante e não dizes nada
Acham-te inferior e sorrias para eles
Continuam a te governar e já não precisam de correntes e chicotes:
Bofeteiam-te com mãos de luva branca
E aperte-lhes a mão calorosamente.
Enganam-te com truques virtuais de capitalismo e os abençoas

Mas que sina Mamãe África!
Que fizeste ao mundo e aos deuses
Para seres o contentor dos seus males?
Até quando Mamãe África?
Até quando vais deixar que te roubam os rebuçados aos teus filhos
Em troca de chuchas de consolo?
Até quando? Quando Mamãe África?
Quando tomas juízo?
Quando, quando...

Faro, 2001

Os 5 Sentidos da Saudade

Vejo ainda na miragem dos tempos
O meu bairro singelo da infância.

Ouço ainda a voz menina
Ecoando no céu soalheiro

Cheiro ainda a terra abatida
Onde plantei suor nas brincadeiras de “hands up”

Sabe-me ainda o gosto mágico da cachupa

Tacteio ainda no vão da minha imaginação
O semblante franzido da minha da minha avó
Pasmada no tempo dos mitos.

Faro, 2001

Estudante Africano

Que olhares indiferentes são esses?
Que cinismos escondem esses sorrisos amarelos?

Saibam que:
Eu já não sou mais, aquele que arrasta correntes nos pés,
Nem trago mais algemas no pensamento.

Eu já não sou mais, aquela feiúra de rosto esfomeado,
Estampado nos anúncios de misericórdia

Já não sou mais aquele esqueleto barrigudo de gente,
De olhar vã nas lamas dos campos de refugiados.

Eu já não sou mais um número de estatística,
Que anuncia a minha morte daqui a dez minutos.

Eu já não sou mais capa de revistas trágicas,
Nem foco das máquinas dos jornalistas que disparam indiferentes,
Entre a multidão de gente desnuda sem pão.

Já não sou mais o mutilado “rebenta minas”
Que deixa rastos de sangue pelo caminho.

Já não sou mais o camponês que planta em Marte.
… Eu sou o clamado poema diferente!

Eu sou o poema,
Que poetas de versos de guerra,
E rimas de fome,
Sonharam escrever sem manchas de sangue.

Eu sou a raiz e o fruto da filosofia de Cabral.
A realidade da utopia africana.

Eu sou o grito de esperança,
Que saiu da goela dos combatentes,
O trofeu da revolução,
O choro tornado riso.

Eu sou o soldado de livro em punho
Que caminha certo e com sorriso na fidúcia do rosto
Eu sou este... O Estudante africano.

Faro, 2001.

Adeus

Adeus meu amor, minha flor!
Vou-me embora esposar a solidão.

O meu amor é grande demais.
Arrebenta com as artérias do meu coração,
Inflama a minha alma,
E deixa-me a andar atrofiado no fio da navalha.

Vou-me embora para sempre,
E deixo a chave da vida
Depositada no fundo do mar.

E pensar que todo o crime que cometi
Foi amar alguém
Mais do que um coração humano pode receber!

Ai, se soubesses!
Se soubesses o quanto te amei!?
Tanto quanto amo agora a solidão:
Minha verdadeira esposa.
Adeus meu amor! Adeus!

Faro, 1999.

Utopia


Fui plantar cabos de éden no istmo da minha alma,
Para que meus versos desérticos rimassem com o verde do nome do meu país.

Tentei salivar rios de água doce entre vales de pastagem;
Asfaltei minha própria língua,
Para que ilha rimasse com progresso.

Mas, minhas palavras pedregosas só me dão versos de rochas nuas!
Minha alma é um pé de pinheiro que dança com o vento leste!
Meu choro raro é chuva míngua em terra seca!

Escavei bem fundo meu coração vulcão,
Na esperança infausta de encontrar o germe pão.
Só encontrei uma guisa de morna
Entrançado num riso de morabeza.

Faro, 2000.

quarta-feira, janeiro 05, 2005

Bárbaro de mim

Eu sinto um bárbaro entre romanos!
Minha alma de poeta,
Não é compreendida neste planeta.

Minha rima não tem imã,
Nem cativa minha diva.
Não há lugar para romeus,
Neste palco de ateus.

Tradução:

I feel like a barbarian Among Romans!
My poet soul,
It is not understood in this planet!

My rhyme do not have magnet,
Nor it captures my diva.
There is no place for Romeos
In this stage of atheists.