segunda-feira, janeiro 10, 2005

Homens de Lama.

Aonde vai esta multidão de gentes estranhas?
Todas apressadas como formigas...
Sem desviar as caras pintadas vão atrofiadas.
Algumas de caras irónicas,
Vestidas de roucas estranhas...
Oh! Vão para a cidade
O Mindelo está invadido de gente louca
Que barulho de tambores é este?
Que cantares!?
Ah! Já me lembro! É a festa dos sãovicentinos.
É o carnaval!

Já ouço o som dos bombos e das caixas
O trac trac dos tamborinhos
São os pandeiros que tilintam...
Lá vem as fileira cantando,
Gritando e sambando.
Que vestes bonitas!
São múltiplas as roupas garridas e policromas!
É o bloco dos Vindos do Espaço!
Vem todo movimentado e iluminado...
Olá astronauta!?
Como está lá em cima oh rainha espacial!!

Mas... onde estão os outros?
Não vejo as coisas de outrora
Que eu em tempo de menino
Enfrentava a multidão, as pisadas, os engoches Para ver.

Onde estão os dragões de boca de lume?
E as girafas... os leões...?
Para onde foram as morenas de biquinis?
São poucas as sereias de agora!
Já não vejo o capitão tradicional...
Onde estão o Flores de Mindelo e os outros?
Todos simples espectadores!?
Nem vejo o gigante de pernas de pau...!
Só caixões... e as bailarinas?

É por isso que o teu sorriso se estreitou ó Mindelo?
Mas não fique com essa cara triste
De quem perdeu o filho.
Ponha pelo menos uma mascara irónica para disfarçar.
Talvez venha mais blocos mais tardinha...
Olha! Vem aí uma fileira lá em baixo!
Ops, desculpe-me! Vou correr pro outro lado...
- São os homens de lama!

Mindelo, 1996.

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