segunda-feira, janeiro 10, 2005

Estudante Africano

Que olhares indiferentes são esses?
Que cinismos escondem esses sorrisos amarelos?

Saibam que:
Eu já não sou mais, aquele que arrasta correntes nos pés,
Nem trago mais algemas no pensamento.

Eu já não sou mais, aquela feiúra de rosto esfomeado,
Estampado nos anúncios de misericórdia

Já não sou mais aquele esqueleto barrigudo de gente,
De olhar vã nas lamas dos campos de refugiados.

Eu já não sou mais um número de estatística,
Que anuncia a minha morte daqui a dez minutos.

Eu já não sou mais capa de revistas trágicas,
Nem foco das máquinas dos jornalistas que disparam indiferentes,
Entre a multidão de gente desnuda sem pão.

Já não sou mais o mutilado “rebenta minas”
Que deixa rastos de sangue pelo caminho.

Já não sou mais o camponês que planta em Marte.
… Eu sou o clamado poema diferente!

Eu sou o poema,
Que poetas de versos de guerra,
E rimas de fome,
Sonharam escrever sem manchas de sangue.

Eu sou a raiz e o fruto da filosofia de Cabral.
A realidade da utopia africana.

Eu sou o grito de esperança,
Que saiu da goela dos combatentes,
O trofeu da revolução,
O choro tornado riso.

Eu sou o soldado de livro em punho
Que caminha certo e com sorriso na fidúcia do rosto
Eu sou este... O Estudante africano.

Faro, 2001.

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