Mamãe África, na tua infância ingénua
Foste filha bastarda e ilegítima do mundo.
Negaram-te o direito de existência própria,
Exploraram o teu corpo, sugaram os teus frutos,
Sustentaram-te com o pão que o diabo amassou.
Puseram-te na escola da tortura,
Aprendeste o ABC da escravidão.
Já na juventude imatura
Arregaçastes as saias e mostraste mulher
Todos quiseram te repartir como uma prostituta.
Quiseste ser livre,
Deram-te uma carta de alforria assinada com balas de fogo.
Olhaste a tua volta
Descobriste as mágoas da tua sina:
Teus olhos vazaram lágrimas de sangue,
Ao veres os teus filhos uns contra os outros.
Entristeceste com a pobreza,
Frustraste com as doenças.
Agora na tua idade adulta
Continuas uma criança tímida.
Insultam-te como devedora e ficas calada
Chamam-te ignorante e não dizes nada
Acham-te inferior e sorrias para eles
Continuam a te governar e já não precisam de correntes e chicotes:
Bofeteiam-te com mãos de luva branca
E aperte-lhes a mão calorosamente.
Enganam-te com truques virtuais de capitalismo e os abençoas
Mas que sina Mamãe África!
Que fizeste ao mundo e aos deuses
Para seres o contentor dos seus males?
Até quando Mamãe África?
Até quando vais deixar que te roubam os rebuçados aos teus filhos
Em troca de chuchas de consolo?
Até quando? Quando Mamãe África?
Quando tomas juízo?
Quando, quando...
Faro, 2001
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